segunda-feira, 9 de outubro de 2017

COEXISTIR

Hoje, ao cair da tarde, contemplando o pôr do sol da sacada do meu apartamento, meus olhos se deleitavam com a beleza dos raios do sol incidindo sobre as nuvens. À medida que o tempo passava, o grande astro luminoso mergulhava vagarosamente na linha do horizonte. Fiquei ali quieto até o céu escurecer.

O entardecer para mim não é nostálgico, é sempre um momento especial de boas recordações. Das muitas lembranças, descrevo um final de tarde que marcou muito minha vida. Era um dia de inverno, e uma garoa caía lentamente, deixando o clima bem fresco. Sentado em um mocho pequeno, sob as folhagens da goiabeira do quintal lá de casa, presenciei aquela transformação com um olhar estupefato. Como poderia ser isto!?

Daquele casulo saía uma linda borboleta, de asas grandes e de um azul cintilante indescritível. Concluída a metamorfose, meus olhos testemunharam os primeiros voos daquele belo inseto. Por algum tempo fiquei com a mente imersa no surgimento daquela extraordinária criação de Deus.Pela primeira vez parei para pensar sobre a vida além da existência humana. Foi a partir daí que passei a ver o mundo ao meu redor com um olhar diferente. Entendi que a vida compreende um conjunto de existências, que coexistir é que nos torna maiores do que já somos. Meus olhos se abriram para a realidade de que, toda a criação é obra das mãos de Deus.

Já satisfeito com o que tinha experimentado, levantei, peguei o mocho, e entrei em casa levando o universo comigo. Esta lembrança foi tão nítida na minha mente, que só depois é que percebi que eu estava em meu apartamento, e não na casa de infância.

Foi uma recordação que me fez muito bem, pois até sonhei que voava com as asas da borboleta!            

Cristo a esperança da glória!

Diante de tudo que se tem visto e ouvido, é inegável que o desespero tem assolado a humanidade, de tal forma, que tornou-se doença mortal. A busca desenfreada por uma vida gloriosa e isenta de dor é como um buraco sem fundo que leva as pessoas cada vez mais para baixo. Desesperados, muitos transformam o viver em uma eterna luta de superação de problemas. Esquece-se que o desespero nada mais é do que a negação interior de que a vida tem suas contingências, e de que somos seres humanos limitados em todos os aspectos.

A negação de nossa natureza humana nos consome, nos leva            
a exigir de nós e dos outros o que nunca alcançaremos neste mundo; a perfeição. Kierkegaard em “O desespero humano”, fala que o desespero se manifesta de duas formas: Não querermos ser nós mesmos, ou a vontade desesperada de sermos nós mesmos. Paulo, apóstolo dos gentios, viveu este desespero, e só superou suas angústias quando admitiu sua miserabilidade humana. Foi assim que ele aprendeu a lidar com as pressões da vida sem, no entanto, deixar-se ser consumido por elas. Os discípulos de Jesus também enfrentaram esta luta, a ponto de serem avisados pelo próprio Cristo que as aflições deste mundo seriam inevitáveis.

Só há uma saída para que não sejamos engolidos pelo desespero; fazer de Cristo nosso ânimo, nossa motivação maior de viver. Quem busca refúgio em Cristo, não é dominado pelo desespero, porque experimenta paz em quaisquer circunstâncias da vida. 
Cristo a esperança da glória!