quarta-feira, 15 de março de 2017

Os desfiles da vida

Mais um ano em que o desfile na passarela do samba foi mostrado em detalhes pela televisão brasileira. Na verdade, já a um bom tempo os acontecimentos do mundo todo se transformaram em meros “desfiles” que não cessam de passar à vista da plateia.
A televisão não deixa escapar um. Tem desfiles de todos os gostos. Cada desfile que passa vai produzindo alegria, euforia, tristeza, raiva, choro, admiração, rivalidade, desespero e até indiferença.
Os “desfiles” do cotidiano são diferentes dos da passarela, já que nestes as pessoas se expõem para serem aplaudidas, enquanto naqueles as pessoas são expostas para produzirem audiência. Atualmente, entre os “desfiles” em destaques, que prendem milhares e milhares de pessoas na televisão, estão: Os refugiados da Síria desesperados para encontrar o chão do sossego; o Donald Trump exibindo sua intolerância e discriminação para com os imigrantes; a vergonhosa podridão da política brasileira e a fome matando milhões de crianças no mundo todo. Daqui a um tempo esses “desfiles” serão empurrados por novas comissões de frente, e outras novidades vão entrar na passarela da informação.
E é neste samba da vida que a plateia vai se tornando cada vez mais insensível às dores e sofrimentos da multidão. As tragédias são tantas, que de tanto chorar as próprias dores, não dá nem tempo de chorar com os que choram. Como diz Chico Buarque: “E cada qual no seu canto. Em cada canto uma dor. Depois da banda passar. Cantando coisas de amor”.
Os olhos estão obscurecidos diante da realidade de que, depois que o “desfile” passa, fica apenas uma passarela encardida pela sujeira da indiferença. No final de tudo, vale o que disse o sábio Salomão: Nada faz sentido! Nada faz sentido! Porque só o temor a Deus é que dá sentido a tudo.