Quando menino, fui criado em beira de rio. Cansei de passar o dia inteiro curtindo de tudo que o rio me oferecia. Banhava tanto, que as pontas dos dedos enrugavam.
Lembro de algo que chamava bastante minha atenção; as libélulas voando e tocando com a cauda na água. Não sabia porque elas faziam aquilo, mas achava que havia uma razão muito forte. Só depois de algum tempo é que fiquei sabendo que são as fêmeas soltando seus ovos. Naquela época chamávamos estes insetos de Macaquinhos.
Há uma espécie muito interessante que, em vez de jogar os ovos, pousa em uma planta, coloca a cauda dentro d’água e deposita-os nos caules, para ficarem protegidos de predadores.
Existe ainda outra espécie que mergulha totalmente na água, e com a ponta da cauda faz cava no caule para colocar os ovos. Quando isso acontece a liberdade de voar é temporariamente suprimida e o risco de morrer, por falta de oxigênio, é eminente. Retornando à superfície, é necessário um esforço tremendo para que as asas voltem a bater e elas peguem voo novamente. Todo este sacrifício é com o único propósito de pôr os ovos em lugar seguro e garantir o nascimento de outro igual.
Assim é a vida.... Toda reprodução carrega o princípio de que é necessário sacrifício para que o outro tenha vida. O início da existência de um, exige colocar, mesmo que momentaneamente, a vida de outro em risco. Quem sabe não foi isto que o filósofo romano Sêneca quis dizer com: Viver é correr o risco de morrer!
Observando as libélulas, sem consciência da morte elas apenas vão vivendo e se reproduzindo. Infelizmente há pessoas que, mesmo com a consciência da eternidade, vivem sem reproduzirem nada. Parafraseando o apóstolo Paulo: Se o viver produz vida, então a morte passa a ser lucro.
Cristo foi profundo sobre isto quando disse aos seus discípulos que, se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, ficará só; se morrer, produz muito fruto. Ele estava se referindo à sua morte na cruz do calvário, dando vida plena para uma humanidade condenada à morte eterna. Logo, sem morte a vida humana não se eterniza.
Pensando bem..., o tempo tornou a morte e a vida parceiros de existência, pois um depende do outro para se consolidarem. É morrendo que se vive; e quem vive, um dia morre. Bem disse o grande sábio: Há tempo de morrer e tempo de viver.
Jesus,o mestre da comunicação, ensinava conversando,no entanto,não conversava ensinando,porque sabia da importância de se comunicar de forma simples e natural."Conversanobre" tem como proposta,expor meus pensamentos, elucubrações e insights, oriundos de conversas minhas,com Deus,comigo mesmo,com pessoas e com o mundo ao meu redor.Conversar é ato nobre de compartilhar sonhos,histórias e vida.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
COEXISTIR
Hoje, ao cair da tarde,
contemplando o pôr do sol da sacada do meu apartamento, meus olhos se
deleitavam com a beleza dos raios do sol incidindo sobre as nuvens. À medida
que o tempo passava, o grande astro luminoso mergulhava vagarosamente na linha
do horizonte. Fiquei ali quieto até o céu escurecer.
O entardecer para mim
não é nostálgico, é sempre um momento especial de boas recordações. Das muitas
lembranças, descrevo um final de tarde que marcou muito minha vida. Era um dia
de inverno, e uma garoa caía lentamente, deixando o clima bem fresco. Sentado
em um mocho pequeno, sob as folhagens da goiabeira do quintal lá de casa,
presenciei aquela transformação com um olhar estupefato. Como poderia ser
isto!?
Daquele casulo saía uma
linda borboleta, de asas grandes e de um azul cintilante indescritível.
Concluída a metamorfose, meus olhos testemunharam os primeiros voos daquele
belo inseto. Por algum tempo fiquei com a mente imersa no surgimento daquela
extraordinária criação de Deus.Pela primeira vez parei
para pensar sobre a vida além da existência humana. Foi a partir daí que passei
a ver o mundo ao meu redor com um olhar diferente. Entendi que a vida
compreende um conjunto de existências, que coexistir é que nos torna maiores do
que já somos. Meus olhos se abriram para a realidade de que, toda a criação é
obra das mãos de Deus.
Já satisfeito com o que
tinha experimentado, levantei, peguei o mocho, e entrei em casa levando o
universo comigo. Esta lembrança foi tão nítida na minha mente, que só depois é
que percebi que eu estava em meu apartamento, e não na casa de infância.
Foi uma recordação que me
fez muito bem, pois até sonhei que voava com as asas da borboleta!
Cristo a esperança da glória!
Diante de tudo que se tem visto e ouvido, é
inegável que o desespero tem assolado a humanidade, de tal forma, que tornou-se
doença mortal. A busca desenfreada por uma vida gloriosa e isenta de dor é como
um buraco sem fundo que leva as pessoas cada vez mais para baixo. Desesperados,
muitos transformam o viver em uma eterna luta de superação de problemas.
Esquece-se que o desespero nada mais é do que a negação interior de que a vida
tem suas contingências, e de que somos seres humanos limitados em todos os
aspectos.
A negação de nossa natureza humana nos consome, nos
leva
a exigir de nós e dos outros o que nunca alcançaremos neste mundo; a
perfeição. Kierkegaard em “O desespero humano”, fala que o desespero se
manifesta de duas formas: Não querermos ser nós mesmos, ou a vontade
desesperada de sermos nós mesmos. Paulo, apóstolo dos gentios, viveu este
desespero, e só superou suas angústias quando admitiu sua miserabilidade humana.
Foi assim que ele aprendeu a lidar com as pressões da vida sem, no entanto,
deixar-se ser consumido por elas. Os discípulos de Jesus também enfrentaram
esta luta, a ponto de serem avisados pelo próprio Cristo que as aflições deste
mundo seriam inevitáveis.
Cristo a esperança da glória!
quarta-feira, 15 de março de 2017
Os desfiles da vida
Mais um ano
em que o desfile na passarela do samba foi mostrado em detalhes pela televisão
brasileira. Na verdade, já a um bom tempo os acontecimentos do mundo todo se
transformaram em meros “desfiles” que não cessam de passar à vista da plateia.
A televisão
não deixa escapar um. Tem desfiles de todos os gostos. Cada desfile que passa
vai produzindo alegria, euforia, tristeza, raiva, choro, admiração, rivalidade,
desespero e até indiferença.
Os “desfiles”
do cotidiano são diferentes dos da passarela, já que nestes as pessoas se
expõem para serem aplaudidas, enquanto naqueles as pessoas são expostas para
produzirem audiência. Atualmente, entre os “desfiles” em destaques, que prendem
milhares e milhares de pessoas na televisão, estão: Os refugiados da Síria
desesperados para encontrar o chão do sossego; o Donald Trump exibindo sua
intolerância e discriminação para com os imigrantes; a vergonhosa podridão da
política brasileira e a fome matando milhões de crianças no mundo todo. Daqui a
um tempo esses “desfiles” serão empurrados por novas comissões de frente, e
outras novidades vão entrar na passarela da informação.
E é neste
samba da vida que a plateia vai se tornando cada vez mais insensível às dores e
sofrimentos da multidão. As tragédias são tantas, que de tanto chorar as
próprias dores, não dá nem tempo de chorar com os que choram. Como diz Chico
Buarque: “E cada qual no seu canto. Em
cada canto uma dor. Depois da banda passar. Cantando coisas de amor”.
Os olhos estão obscurecidos diante da realidade
de que, depois que o “desfile” passa, fica apenas uma passarela encardida pela
sujeira da indiferença. No final de tudo, vale o que disse o sábio Salomão:
Nada faz sentido! Nada faz sentido! Porque só o temor a Deus é que dá sentido a
tudo.
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