domingo, 17 de outubro de 2010

A unidade do povo de Deus

Falar sobre unidade do povo de Deus apenas com base nos relatos históricos do povo de Israel, registrados nas Escrituras Sagradas, pode soar de forma contraditória àquilo que foi escrito pelos autores do Novo Testamento. O Velho Testamento transmite exclusividade, ou seja, povo escolhido e privilegiado pelo Criador (I Sm.12:22); já o Novo Testamento transmite inclusão, ou seja, povo que acolhe; que se espalha com o fim de ajuntar e de integrar outros a si mesmo. Todavia, se ignorarmos esta falsa contradição, pode-se perceber que o propósito de Deus sobre a unidade do seu povo, permanece o mesmo: Ser a extensão do próprio Deus na terra.
A unidade que apenas enaltece o pensamento comum no meio evangélico, de que seremos um povo dominante e poderoso na terra, fere o princípio básico de verdadeira unidade: União que gera acolhimento do solitário e inclusão do diferente. A unidade que anula a interdependência, que fomenta o desejo de poder ilimitado, que fortalece a liturgia do exclusivismo, que acalenta a alma da indiferença e que neutraliza a força da aproximação, é qualquer coisa menos unidade.
Foi o próprio Deus, logo no início da vida humana na terra, quem primeiro percebeu este desvio gerado na mente dos homens, em relação à força de uma unidade verdadeira. Por isso, agiu de forma drástica, com o fim de neutralizar o uso indevido da mesma. Em Babel, Deus tomou a decisão de diversificar a linguagem, com o intuito de espalhar o povo e restringir o intento de fazerem o que bem quisessem. Esta decisão mostra que a unidade de um povo não está circunscrita aos limites do espaço geográfico, que extrapola a uniformidade da comunicação verbal e destrói a barreira de inimizade que há com outros povos. Mostra também que a unidade de um povo não se fundamenta sob a sombra de um nome ou de uma denominação, e nem tão pouco sob os holofotes da suntuosidade de um monumento.
Unidade sem abertura para alcançar novas pessoas e ocupar novos espaços, não é unidade. Unidade que coloca só os iguais dentro, mas fecha a porta para entrada dos diferentes, não é unidade. Unidade que o comum é comum só para quem fala a mesma língua, também não é unidade. A marca da verdadeira unidade de um povo é refletida principalmente pela inclusão e acolhimento dos que estão do lado de fora, e não apenas pela perpetuação dos que já estão dentro. A unidade sadia é aquela em que se abre a possibilidade para os diferentes também se tornarem semelhantes.
Unidade do povo de Deus não significa ter a mesma aparência, o mesmo sotaque, a mesma língua ou estar no mesmo lugar. Antes de qualquer coisa, é refletir a mesma imagem que Jesus refletiu; a imagem do Pai: “Quem vê a mim vê o Pai, porque Eu e o Pai somos um”. Isso significa dizer que a nossa unidade não começa pelo que está fora da gente, nem mesmo pelo que fazemos ou temos, mas primeiramente pelo que somos. E o que somos em Jesus é o que nos faz parecidos com o Pai, e conseqüentemente parecidos uns com os outros a ponto de sermos chamados filhos de Deus.
Busquemos a verdadeira unidade. Aquela que faz o mundo vê em nós a imagem Daquele que tem o poder de reconciliar os homens com Deus em um só corpo, matando assim a inimizade. Lembremos que a verdadeira unidade tem seu exemplo maior na união entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.