segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vamos passear

Passear parece ser coisa de criança. Se assim for, então Deus é uma criança. Depois do processo de criar vem o passear, e foi isso que Deus fez. Ele passeava no lugar mais belo da terra, no jardim que Ele mesmo plantou. Já não se passeia mais como antigamente. Já não se passeia só pelo prazer de passear ou de estar junto de quem se ama. Hoje passear é sinônimo de perda de tempo, de irresponsabilidade e até de ser preguiçoso. Por isso, pais já não passeiam mais com os filhos, cônjuges já não andam de mãos dadas na praça e namorados já não sonham juntos contemplando o pôr do sol no oceano. Amo o mar, por isso uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é ir à praia com minha amada, e ficarmos passeando só pelo prazer de estarmos juntos no entardecer do dia. Sempre que fazemos isso, nosso amor nos transforma em crianças e a lua fica mais bonita.
Tem palavras que fazem parte de uma geração. Outras ficam em desuso. E há aquelas em que as definições não mudam, mas a forma de praticá-las sim. “Passear” atualmente é uma palavra ultrapassada, porque só se sai de casa por algum motivo que não seja simplesmente passear. Não se passeia mais olhando com os olhos da alma; se anda no Shopping com os olhos do desejo comum: A satisfação pessoal. Quando passeamos com os olhos da alma, somos livres para viver e deixar o tempo passar sem mesmo percebermos.
Na minha época de menino passeávamos na praça enfrente da minha casa. A praça não tinha nada de atrativo a não ser as árvores. O que tinha de novidade, quando passeávamos, era simplesmente o prazer de passear de novo e a certeza que minha mãe nos observa da janela. Depois que crescemos, passamos a passear longe de casa, e então minha mãe deixou de nos observar e passou a nos esperar sem sair da janela. Quando me tornei adulto e minha alma se tornou criança, é que entendi. Da janela lá de casa, olhando a paisagem, mamãe também passeava. Passear é um estado da alma; é usufruir o prazer de somente viver, ou seja, é viver sem se preocupar como viver; é não fazer nada e ao mesmo tempo fazer tudo que nos torna livres para somente existir. Passear é vê sem desejar, sem querer ter ou fazer. É gozar da sintonia da alma com a vida. Passear é deixar a alma contemplar a beleza ao nosso redor. E a beleza é aquilo que o Rubem Alves diz: “A beleza é a sombra de Deus no mundo”.
Quando me casei, mantive o costume de passear de mãos dadas com minha esposa. Toda vez que passeamos, sinto nossas almas namorando a liberdade. Nos sentimos livres por dentro e por fora. Nossos passeios se transformam em sublimes momentos de ficarmos juntos sem fazer nada a não ser usufruir da companhia um do outro. Foi passeando que descobrimos que o amor não precisa de motivos para sorrir, porque quando sorrimos um com o outro é porque nossos corações sorriram primeiro. Nesses momentos conseguimos vê o belo através dos olhos um do outro.
Penso que Deus se tornou poeta passeando no jardim do Éden, e que o maior prazer Dele não era passear só, mas na companhia da criatura que Ele fez. Na verdade quem aprende a passear nunca passeia sozinho, porque na ausência do outro, acaba passeando consigo mesmo. No entanto, o melhor passeio é quando passeamos juntos, é quando tem mãos que se unem; olhos que se encontram; corpos que se aquecem e almas que se completam. Não tenho dúvida que o primeiro convite de Deus para o homem é para um passeio de mãos dadas no jardim da felicidade. Infelizmente muitos rejeitam este convite e acabam se escondendo sob as folhas da solidão eterna.
Um dia aceitei o convite de Deus. E a partir daí nunca mais soltei a mão Dele. E foi de mãos dadas que Ele me ensinou a passear. Por isso, o convite está feito: Vamos passear!