sábado, 4 de fevereiro de 2012

Hombridade

Talvez a hombridade seja, dentre as nobrezas de caráter, a de maior escassez nos dias de hoje. Hombridade é algo intrínseco à própria dignidade de uma pessoa. É quando se assume o que se é e o que se faz sem pestanejar. Era o que no passado os homens sérios queriam dizer aos seus filhos ao afirmarem: “Ser homem de verdade”. Isto não tinha a ver com a sexualidade masculina, mas com a capacidade de exercer autonomia individual e tomar decisões responsáveis. É ter coragem de assumir responsabilidade por tudo que fizer ou deixar de fazer.

Conhecendo as histórias de alguns homens relacionados na Bíblia, facilmente se detecta a existência desta qualidade em suas vidas. Arrisco até dizer que esta virtude era vista nos discípulos mais próximos de Jesus. A sinceridade de Pedro ao pedir para Jesus se afastar estava pautada na hombridade de admitir quem realmente era; um pecador. Quando Cornélio se prostrou aos seus pés adorando-o ele o advertiu dizendo: “Levante-se, eu sou homem como você”. Tomé não hesitou em revelar sua incredulidade mesmo depois de caminhar por algum tempo com o Mestre. João deixou claro o sentimento de exclusividade que carregava em seu coração por fazer parte do grupo de discípulos de Jesus. Com o apóstolo Paulo esta qualidade era bastante evidenciada. Admitiu sua fraqueza humana ao revelar que o mal que não queria fazer acabava fazendo, além de repreender veementemente a multidão que queria tratá-lo como deus, dizendo-lhes que era homem sujeito às mesmas paixões.

Infelizmente a igreja de Jesus está carente de homens que tenham hombridade para admitirem o que realmente são e assumirem tudo o que fazem. Pelo contrário, omitem suas verdadeiras identidades, pensando de si mesmos além do que convém. Ignoram que é somente pela graça de Deus que se é o que é. O que se vê hoje é a arrogância de muitos que se declaram seguidores de Cristo considerando-se superiores aos outros, alimentando uma imagem distorcida de si mesmo, com o único propósito de alcançarem reconhecimento, admiração e glória pessoal.

Digno de admiração foi João Batista, que perdeu literalmente a cabeça por assumir o que fazia e admitir quem era e a até mesmo quem não era. E assim ele se revelou ser um homem de verdade. Agir com hombridade é estar disposto a manter-se fiel ao que si é e ao que se vive, ainda que isto nos leve à rejeição e ao anonimato diante dos homens. Exemplo maior de quem praticou esta virtude foi Jesus, por isto pôde ensinar que a transparência interior é que define verdadeiramente quem é uma pessoa.