quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Mergulhado no rio de Deus

Mergulhado e ao mesmo tempo não estando molhado...  A vida tem dessas coisas! Nem todo molhado está mergulhado, e há quem mergulhe sem nunca se molhar! Vez por outra mergulho em águas que não me molham, ou para ser bem verdadeiro, em águas que não permito me molharem.  Confesso! Também já me molhei sem mergulhar com medo de me afogar, e só depois descobri que o molhado bem mergulhado é que é levado às profundezas das águas tranquilas. Foi mergulhando e me entregando ao remanso dessas águas, que compreendi o que o salmista quis dizer ao afirmar que o Senhor o guiava mansamente às águas tranquilas (Sl.23:2).

Na vida cristã muita vezes somos como um Mergulhão, ave aquática que mergulha para comer do que tem no mar, mas não se deixa ser guiado pelas águas serenas deste imenso mar. Infelizmente os cristãos de hoje, na sua maioria, preferem viver apenas na superfície do rio de águas vivas. Porque não mergulham na graça poderosa do Espírito, ficam na espreita de migalhas espirituais respingadas pelas correntes do rio claro que sai do trono de Deus (Ap. 22:1).

A realidade cristã é de um povo sedento, porque não bebe do poço de Deus. Uma Igreja que vive molhada pelas águas do engano, da vaidade e da mentira; que tem a aparência de estar inundada das coisas que vem do Espírito, mas no seu interior só há secura de tudo o que é santo, limpo e sagrado. Esqueceram que é impossível sair água doce e água amarga da mesma fonte (Tg.3:11). Corações que vivem encharcados pelos prazeres deste mundo, e que preferem beber das águas amargas de Mara, do que mergulhar nas fontes de Elim, onde há águas límpidas que refrigeram a alma (Êx.15:22-27).

Mas no meio deste caos religioso, há ainda os remanescentes, os verdadeiros adoradores que aprenderam a saciar sua sede na fonte de água viva, Jesus! A estes o Senhor conclama não apenas a beberem, mas também a serem ribeiros transbordantes de águas que jorram para a vida eterna (Jo.4:13). Porque buscaram satisfazer seus desejos mergulhando no manancial da vida, chegará o dia em que usufruirão do rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o Santo Lugar onde habita o Altíssimo (Sl.46:4).

Na minha caminhada com Deus, aprendi que não basta só nadar neste rio da vida, mas é preciso também mergulhar para poder experimentar a beleza do que tem nas profundezas da Fonte Eterna. E foi assim que perdi o medo de me afogar, porque resolvi mergulhar na presença Daquele que não apenas limpa o corpo, mas também encharca a alma e o espírito da pureza que vem Dele mesmo.

À Cristo toda glória. Eternamente, amém!

 

 

 

sábado, 27 de julho de 2013

Lagoas e lençóis

Foi um dia daqueles! Cansativo, no entanto, prazeroso. Os passeios foram cheios de aventuras e emoções. Para chegarmos às lagoas dos Lençóis Maranhenses tínhamos que seguir uma trilha cheia de curvas e com muita areia, o que exigia carro de tração nas quatro rodas. A Toyota se transformava em brinquedo de criança, pois o balanço mexia tanto com a gente que era impossível não se emocionar. Além da emoção havia a facilidade de sorrirmos por qualquer coisa, melhor dizendo, por bobagens. Tudo era motivo de expressarmos felicidade por estarmos juntos como família.

A euforia era grande! Estávamos todos contagiados pela alegria de vivenciarmos algo incomum. Nesta aventura nos esquecemos de tudo que ficou para trás: dívidas, contas a pagar, projetos a realizar, e principalmente das coisas corriqueiras da vida que produzem em nós desejo por viver coisas novas. Sentia-me como uma criança travessa, e via meus irmãos de igual modo. Parecia que os tempos de outrora tinham voltados.

Ao chegarmos às dunas fomos impactados pelas lagoas de águas transparentes. Ali era a natureza pura, original e esplendorosa diante de nossos olhos. Ficamos encantados com as maravilhas da criação de Deus. A sensação era que estávamos em um pedaço do Paraíso. Eita! Até parece que eu já vivi no Paraíso. Na verdade, essas coisas a gente só diz quando estamos embriagados pela beleza e grandeza da criação. A imensidão das dunas intercaladas pelas lagoas; um vento suave tocando o meu corpo, e um céu de um azul límpido, produzia em mim uma reverência maior Àquele que é e que sempre será a razão maior de tudo que vivi, vivo e que ainda viverei. Extasiei-me com a originalidade do que via e mergulhei de cabeça na profundidade do que é belo.

Um momento extraordinário ainda haveríamos de viver naquele paraíso terrestre, daí aguardarmos até o final da tarde para contemplarmos o pôr do sol. Subimos em uma das dunas mais alta e miramos o encontro do grande astro com a linha do horizonte. Somente neste encontro é que os olhos humanos conseguem vislumbrar a potência desta fonte luminosa. A mistura de cores e os raios solares incidindo nas nuvens enfeitavam o céu e produzia um ambiente festivo e reflexivo ao mesmo tempo.

Esta aventura foi muito gratificante, mas acima de tudo foi um grande privilégio poder viver com meus familiares momentos que nos aproximaram mais; tanto uns dos outros como de Deus. Sem dúvida, as aventuras muitas vezes servem para atiçar o que sentimos de mais precioso por aqueles amamos. Este dia, com certeza é um dia inesquecível.

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ausência versus Presença

O Rubem Alves diz que saudade é a presença da ausência. Entendo que ele está se referindo à ausência de alguém ou de algo, de valor incalculável, mas que continua bem presente no coração de quem sente a saudade. Esta ausência pode ser gerada pelas contingências da vida; pode ser circunstancial ou até mesmo proposital. No final das contas é sempre uma ausência dolorida.

Por outro lado há aquela ausência que é desejada e valorizada, que quando não se faz presente sentimos até falta dela. Quando as férias do patrão intolerante e autoritário passam muito rápido, é possível que um empregado sinta saudade da ausência. Quando um pai rabugento e ignorante fica muito tempo em casa, é provável que os filhos sintam falta da ausência. Quando um esposo indiferente e frio produz inquietação na esposa, a probabilidade dela desejar a ausência dele é muito grande.

Há ainda a ausência que tem prioridade sobre a presença. No mundo de hoje é comum a ausência suplantar a presença. Ela é fruto da comodidade de quem está ausente e da falta de consideração com quem estar presente. Sempre que um atendente deixa alguém que está presente esperando, para atender alguém que está na linha telefônica, é porque a ausência suplantou a presença. Quando um pai prefere instruir o filho por meio de email evitando uma conversa direta, é porque a presença foi depreciada em relação à ausência. Esta ausência tem tanto valor hoje, que tem aqueles que preferem gastar horas nas redes de relacionamentos a sentar com alguém e ficar conversando.

A questão é tão séria que mesmo Deus, quando criou o homem, reconheceu o prejuízo que a ausência produz na vida das pessoas: Não é bom que o homem esteja só. Ou seja, o homem necessita da presença para que sua vida se torne mais prazerosa de viver. E esta presença diz respeito à presença de Deus e do próximo. É bom lembrar que a manifestação de Deus na terra se revela por meio da Trindade, que na forma mais simples e limitada de entendimento significa uma unidade composta; ser um com a presença de todos.
Talvez o grande problema da solidão seja de como lidamos com a presença e do quanto valorizamos a ausência. Graças a Deus que há uma presença que nunca deixaremos de ter: A presença do próprio Deus. Na sua oração com o Pai, o rei Davi o inquiriu muito bem sobre isto: Para onde eu poderia fugir da tua presença? (Sl.139:7).

Nesta luta entre a ausência e a presença, travada no interior do homem, a vitória é definida quando o coração si esvazia para ser cheio Daquele que tem em si a presença maior: A onipresença.

 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Mimoso


Talvez quando filhote sim, mas depois que cresceu, de mimoso não tinha nada. Bem verdade é que o Mimoso que sempre me veio à mente foi o que conheci em uma brincadeira de São João durante as festas juninas. Esta brincadeira é muito valorizada em minha terra, o Maranhão, e é conhecida como Bumba-meu-boi. Tudo ocorre em volta do boi, que na verdade é a principal figura da festa, e consiste numa armação de madeira em formato de touro, coberta de veludo bordado. Em uma destas festas, o boi tinha o nome de Mimoso. Dizem que aquilo que se vê pela primeira vez é difícil de esquecer. Então eis aqui eu, falando de Mimoso.

Mas o Mimoso desta história é outro. Era o cachorro mais valente do bairro. É interessante, mas no processo da vida o próprio tempo se encarrega de fazer suas intervenções. No geral tudo que nasce, nasce delicado, agradável e mimoso. Só que com o tempo e com as transformações a beleza inicial se esvai. E assim o que era delicado fica só na lembrança. Imagino que seus donos só o nomearam de Mimoso porque era um filhote muito formoso. Só que ao crescer, aquele cachorro manifestou características semelhantes às de um touro brabo: Todo preto com pêlo liso e brilhoso, porte físico bem dividido e valentia acima do comum em qualquer cachorro. Só de olhar pra ele dava medo. Além de feroz era muito violento, aponto de chegar a matar o adversário quando brigava. Não havia um cachorro no bairro que era páreo para ele. Seu latido parecia mais como um rugido de leão.

Numa bela tarde quando a garotada estava toda reunida no campinho onde se jogava bola, não se sabe como, mas Mimoso fugiu do quintal da casa dos seus donos. O primeiro que viu gritou: É Mimoso! É Mimoso! É Mimoso! Daí só restou uma coisa a fazer. Parar de jogar e... Pernas pra que te quero. Nunca corri tanto como corri naquele dia. Ocorre que esqueci que tinha meu irmão mais novo na jogada. Dizem que o medo faz a gente deixar qualquer tesouro pra traz. No meu caso deixei literalmente um grande tesouro. No desespero, o único tesouro que eu queria era um lugar para me esconder. Neste caso fica fácil entender as palavras do grande Mestre: “Onde estiver o teu tesouro, aí também estará e teu coração”.

Só que o sangue que corria nas minhas veias gritou pelo sangue que ficou pra traz. E assim foi que o amor lançou fora todo o medo. Não pensei duas vezes; voltei! Infelizmente não deu tempo de impedir o sofrimento, mas deu tempo de demonstrar o Amor. Voltamos juntos para o esconderijo, nossa casa. Ele, ferido no corpo; eu, ferido na alma. Mas graças a Deus que Mimoso passou e eu continuei com meu irmão, jogando bola e gritando “Gool”.