Por outro lado há aquela ausência que é desejada e valorizada, que quando não se faz presente sentimos até falta dela. Quando as férias do patrão intolerante e autoritário passam muito rápido, é possível que um empregado sinta saudade da ausência. Quando um pai rabugento e ignorante fica muito tempo em casa, é provável que os filhos sintam falta da ausência. Quando um esposo indiferente e frio produz inquietação na esposa, a probabilidade dela desejar a ausência dele é muito grande.
Há ainda a ausência que tem prioridade sobre a presença. No mundo de hoje é comum a ausência suplantar a presença. Ela é fruto da comodidade de quem está ausente e da falta de consideração com quem estar presente. Sempre que um atendente deixa alguém que está presente esperando, para atender alguém que está na linha telefônica, é porque a ausência suplantou a presença. Quando um pai prefere instruir o filho por meio de email evitando uma conversa direta, é porque a presença foi depreciada em relação à ausência. Esta ausência tem tanto valor hoje, que tem aqueles que preferem gastar horas nas redes de relacionamentos a sentar com alguém e ficar conversando.
A questão é tão séria que mesmo Deus, quando
criou o homem, reconheceu o prejuízo que a ausência produz na vida das pessoas:
Não é bom que o homem esteja só. Ou
seja, o homem necessita da presença para que sua vida se torne mais prazerosa
de viver. E esta presença diz respeito à presença de Deus e do próximo. É bom
lembrar que a manifestação de Deus na terra se revela por meio da Trindade, que
na forma mais simples e limitada de entendimento significa uma unidade composta;
ser um com a presença de todos.
Talvez o grande problema da solidão seja de
como lidamos com a presença e do quanto valorizamos a ausência. Graças a Deus
que há uma presença que nunca deixaremos de ter: A presença do próprio Deus. Na
sua oração com o Pai, o rei Davi o inquiriu muito bem sobre isto: Para onde eu poderia fugir da tua presença?
(Sl.139:7).
Nesta luta entre a ausência e a presença, travada
no interior do homem, a vitória é definida quando o coração si esvazia para ser
cheio Daquele que tem em si a presença maior: A onipresença.