quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ausência versus Presença

O Rubem Alves diz que saudade é a presença da ausência. Entendo que ele está se referindo à ausência de alguém ou de algo, de valor incalculável, mas que continua bem presente no coração de quem sente a saudade. Esta ausência pode ser gerada pelas contingências da vida; pode ser circunstancial ou até mesmo proposital. No final das contas é sempre uma ausência dolorida.

Por outro lado há aquela ausência que é desejada e valorizada, que quando não se faz presente sentimos até falta dela. Quando as férias do patrão intolerante e autoritário passam muito rápido, é possível que um empregado sinta saudade da ausência. Quando um pai rabugento e ignorante fica muito tempo em casa, é provável que os filhos sintam falta da ausência. Quando um esposo indiferente e frio produz inquietação na esposa, a probabilidade dela desejar a ausência dele é muito grande.

Há ainda a ausência que tem prioridade sobre a presença. No mundo de hoje é comum a ausência suplantar a presença. Ela é fruto da comodidade de quem está ausente e da falta de consideração com quem estar presente. Sempre que um atendente deixa alguém que está presente esperando, para atender alguém que está na linha telefônica, é porque a ausência suplantou a presença. Quando um pai prefere instruir o filho por meio de email evitando uma conversa direta, é porque a presença foi depreciada em relação à ausência. Esta ausência tem tanto valor hoje, que tem aqueles que preferem gastar horas nas redes de relacionamentos a sentar com alguém e ficar conversando.

A questão é tão séria que mesmo Deus, quando criou o homem, reconheceu o prejuízo que a ausência produz na vida das pessoas: Não é bom que o homem esteja só. Ou seja, o homem necessita da presença para que sua vida se torne mais prazerosa de viver. E esta presença diz respeito à presença de Deus e do próximo. É bom lembrar que a manifestação de Deus na terra se revela por meio da Trindade, que na forma mais simples e limitada de entendimento significa uma unidade composta; ser um com a presença de todos.
Talvez o grande problema da solidão seja de como lidamos com a presença e do quanto valorizamos a ausência. Graças a Deus que há uma presença que nunca deixaremos de ter: A presença do próprio Deus. Na sua oração com o Pai, o rei Davi o inquiriu muito bem sobre isto: Para onde eu poderia fugir da tua presença? (Sl.139:7).

Nesta luta entre a ausência e a presença, travada no interior do homem, a vitória é definida quando o coração si esvazia para ser cheio Daquele que tem em si a presença maior: A onipresença.