segunda-feira, 23 de março de 2009

INUSITADA INTIMIDADE

São 5:00h, é madrugada de domingo. O bem-te-vi já anuncia a chegada de um novo dia. Da janela do prédio onde moro, já vislumbro os raios de um sol que segue o seu percurso, de forma imponente.
Sabe aquele dia em que o silêncio interior é infinitamente maior que o exterior..., estou neste momento vivenciando este êxtase espetacular. Sinto leveza. Interiorizo-me. Pressinto a aproximação do intocável. Deleito-me com a sensação da presença do Sublime. Aos poucos a solidão vai se esvaindo, e aí tudo faz sentido. Já não me sinto só, me encontro comigo mesmo, e à medida que mergulho no que me é desconhecido, passo a conhecer quem eu sou. Então..., descubro que somente Nele posso contemplar a minha verdadeira imagem, Ele mesmo.
Neste momento, entendo o que é ser habitado por Aquele que é maior do que eu, maior que o mundo. Sinto-me completo, inteiro. Uma mistura acontece, e ao mesmo tempo sou criança, sou jovem, sou homem. Loucura? Talvez. Mas é o que sinto e o que vivo. Neste momento nada mais importa. Porque nesta loucura me sinto eu, além de intenso prazer. Devaneio. Sugo, mamo, o prazer e o gosto de está nu, descoberto das folhagens da vergonha. É somente assim que consigo me aproximar e me entregar nos braços do Pai.
Nos braços acolhedores do Pai, sou enlaçado, envolvido, acalentado, protegido e mimado. Fico quieto, relaxo, pego no sono e sonho. Mas..., no melhor do sono, Ele me acordou.
O sol caminhou, o dia chegou. A vida me espera lá fora, e é lá que a minha verdadeira imagem deve ser refletida. Então eu volto. E quando volto, encontro Ele, porque de lá Ele nunca saiu.
São 8:00h, é manhã de domingo.O bem-te-vi silenciou e o sol seguiu o seu percurso, de forma imponente.

terça-feira, 3 de março de 2009

UM VALOR DESVALORIZADO

“... mais vale o vizinho perto do que o irmão longe” (Pv.27:10).
No geral, tudo que as pessoas realizam é com propósito de ter lucro, ganho e reserva. E isso não diz respeito apenas à parte financeira, mas também a todas as outras áreas da vida.
Esse anseio desesperado pelo lucro tem levado muitas pessoas a perderem as coisas valiosas que estão ao seu dispor gratuitamente.
O desejo desenfreado pela lucratividade tem tornado a humanidade insensível aos verdadeiros valores da vida, que na maioria das vezes estão tão próximos de nós, no entanto, não percebemos.
Esquecemos que o ganho é relativo e temporal. O que tem valor para um, pode não ter o mesmo valor para o outro; o que hoje para mim é lucrativo, amanhã pode não ser.
Esta é uma das coisas que denota a grande incoerência entre o grau de desenvolvimento e a qualidade de vida desta geração.
Uma das áreas que mais sofre os efeitos deste desequilíbrio é a dos relacionamentos. A perseguição pelo lucro destrói o senso de valor ao próximo, de quem está perto. Esta geração valoriza muito mais quem está do outro lado, do que quem está ao lado. Centralizamos nossa atenção e admiração em quem não nos vê, e esquecemos ou ignoramos quem está ao nosso lado, convivendo conosco.
É mais cômodo se relacionar com quem está do outro lado do mundo, do país, da cidade e até mesmo do outro lado da linha, porque não exige convivência que revela as diferenças, os defeitos, as manias e vícios, que temos que suportar; não exige abrir mão, ou perder qualquer coisa, para manutenção de um relacionamento interpessoal. Quem está do outro lado é alguém que podemos nos desligar automaticamente, basta apertar o botão. Em contrapartida, é relacionamento que não produz sinergia e nem possibilidade de socorro bem presente nas tribulações.
Quem está do nosso lado é nosso verdadeiro vizinho, e pode ser o cônjuge, o filho, um amigo, quem mora na casa ao lado ou até mesmo um irmão. Infelizmente os meios de comunicação criados pelos homens, com o fim de facilitar os relacionamentos, são usados de forma indevida. Existem pais que entram mais no site, email e blog de quem está do outro lado, do que no quarto do filho que está ao lado, precisando do carinho desse vizinho especial.
Conviver (viver com) é tão importante para a humanidade, que o próprio Deus, que coexiste na Trindade, após criar o homem disse: “Não é bom que o homem esteja só”.
Muitas vezes somos omissos diante das necessidades das pessoas carentes, que estão ao nosso lado. Esquecemos que, segundo as escrituras, olhar, cuidar, amar e se interessar por quem está próximo é demonstração de que amamos a Deus. A linguagem básica do evangelho é: Comunhão, aproximação, estar junto, com Deus e com o próximo. Por isso Jesus disse: “Estarei convosco todos os dias, não te deixarei, até a consumação dos séculos”.
Normalmente, valorizamos muito mais as coisas que estão longe do nosso alcance e da nossa visão, e acabamos desvalorizando valores preciosos que estão permanentemente ao nosso lado. Ansiamos por conhecer a beleza de um lugar distante e deixamos de usufruir as maravilhas do lugar onde Deus nos colocou. Achamos que do outro lado sempre é melhor do que o lugar, a casa, os amigos, a igreja, os vizinhos e até mesmo a família, que temos. Agindo assim, deixamos de viver intensamente tudo aquilo que nos foi dado, gratuitamente, pela Providência.
Amemos, valorizemos, cuidemos e vivamos de forma intensa, tudo o que Deus colocou ao nosso lado, porque agindo assim, acumularemos lucros eternos, e o prazer e amor pelas coisas e pessoas distantes terão mais significado e sentido. “... Pois aquele que não ama (valoriza) o seu irmão, a quem vê (está perto), como pode amar a Deus, a quem não vê (distante a olho nu)?