Dos vários
colegas de infância havia um que eu me identificava mais. Sempre estávamos
juntos. À medida que fomos crescendo fomos também descobrindo nossas diferenças
pessoais. Nos estudos, ele gostava de botânica, eu de matemática; no esporte,
ele gostava de basquete, eu de futebol. Quando chegou o tempo de faculdade, ele
seguiu a Agronomia, eu segui a Engenharia. Já bem cedo me tornei um cristão,
quanto a ele, se tornou um ateu ferrenho. Mesmo assim, éramos bem ligados um ao
outro.
Mas, pelas
circunstâncias da vida, ele foi morar em outra cidade. Nesse tempo ainda não
tinha facebook nem whatsApp, aí perdemos contato um com o outro. Passaram-se
muito tempo, mas vez por outra a lembrança daquele colega vinha à minha mente.
Com o advento da internet, resolvi procurá-lo. Não foi difícil encontrá-lo.
Bastou cutucar o facebook que ficou fácil a gente voltar a se falar. Como diz
um poema que li: Nunca é longe demais o
caminho que nos conduz à casa de um amigo.
Depois de
algumas conversas pelo whatsApp percebi que entre nós ainda havia muita
admiração um pelo outro. Ele continuava ateu, por isso falamos de muitas coisas
menos de religião. Havia razão de evitarmos esse tipo de conversa. Antes de nos
distanciarmos, ele sempre afirmava duas coisas. A primeira é que ele só
acreditava em Deus se pudesse ver Deus. A segunda é que ele detestava conversar
com crente, pois a ladainha era sempre a mesma: Céu e inferno, salvação e
condenação, pecado e arrependimento, etc.
No início eu
ficava chateado quando ele falava estas coisas, mas hoje o entendo muito bem.
Aprendi na caminhada com Cristo que tudo na vida tem que ter equilíbrio, e que
a verdadeira fé é refletida no viver comum e não no muito falar de Deus.
Um belo dia,
ele me surpreendeu! Mandou-me um whatsApp pedindo que eu falasse alguma coisa
sobre a existência de Deus. Aí eu vivi um dos maiores desafios em minha vida:
Falar para um ateu da existência de Deus sem os termos da religião. Uau!
Gostei!
Neste tempo,
estava lendo vários poemas de grandes escritores. Então resolvi compartilhar
com meu colega sobre o que Rubem Alves disse, quando perguntaram pra ele se ele
acreditava em Deus. “Deus nunca foi visto
por ninguém. Por acaso a gente vê os próprios olhos? Quem vê os próprios olhos
é cego. Para ver com os próprios olhos, é preciso não ver os olhos... Deus é
como os olhos. Não podemos vê-lo para ver através Dele. Deus é um jeito de ver”.
Depois disso,
ele retornou dizendo que gostaria que falássemos mais sobre Deus. A partir daí
comecei a falar do modo como eu via e sentia Deus. Pois é, a verdade é que a
gente quer explicar demais a existência de Deus, e acabamos esquecendo que ninguém
explica Deus.
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