terça-feira, 12 de julho de 2011

Só existindo

Aqui estou eu. Estirado em minha cama. Lugar sem igual. Debruçado com os cotovelos apoiado no colchão vou navegando através do meu notebook. Tudo aconteceu depois do almoço, por volta das duas da tarde de domingo. Num estalo, senti uma vontade imensa de ficar largado e relaxado sem me concentrar em nada, nem em mim mesmo. Só existindo. Nada mais.
Foi rápido, estranho e extraordinário. Foi como gozar a vida no que ela é de mais sublime: Vida! Em poucos instantes experimentei o inverso de tudo que dizemos ser vida. Minha mente ficou oca, esvaziada de tudo. Nenhum pensamento; nenhum desejo; nenhum sonho; nenhuma imaginação. Nada! Parou tudo. Só restou o existir. Fiquei quieto, mergulhado na imensidão do nada. Em nenhum momento me senti fora do corpo, como se estivesse em dimensão Astral ou Àtmica. Não! O que experimentei foi uma sensação de está em “outside dimension”, ou seja, fora de dimensão de tudo concernente ao mundo físico. Era como estar flutuando na imensidão do infinito. Afirmo também que não foi nenhum tipo de arrebatamento espiritual, no corpo ou fora do corpo, parecido com que o tal homem, descrito pelo apóstolo Paulo, experimentou. No entanto, não tenho dúvida de que fui engolido e traspassado pelo transcendente, por algo que está além da existência humana.
Tento encontrar comparações para explicar o inexplicável. De início foi mais ou menos parecido com um sair de órbita e ficar vagando no espaço sideral, livre de qualquer força externa. Só que com uma diferença. Havia fôlego em mim; havia vida. Ou talvez o que vivi se assemelha ao descrito por Fernando Pessoa no poema “Na floresta do alheamento”: Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu, e estas profundezas penetram-me, misturam-se, e eu não sei onde estou... Mas, pensando bem, acho que foi mais parecido com o Aleph de Carlos Argentino, personagem de Jorge Luis Borges. Tinha a visão de quem estava em um ponto do espaço que continha todos os pontos, ou seja, todos os lugares do orbe visto de todos os ângulos. Esta visão era para mim como um mundo maior que todos os mundos.
O extraordinário é que tudo isto embora tão rápido, foi para mim uma eternidade dentro do tempo. A verdade é que esta experiência se tornou um ponto luminoso no céu da minha vida. Também dilatou minha convicção de que o existir é que dá sentido a tudo que se vive na terra. Não é à toa que na bíblia Deus se revela como “Eu Sou”, o sempre-existente.