quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Assim é a vida

É assim mesmo que a vida faz, vai sorvendo a gente lentamente como se fosse areia movediça. Uma vez na terra dos viventes só nos resta viver a vida como ela é. A grande verdade é que a vida não se deixa levar por aqueles que acreditam que podem caminhar na frente dela; sendo assim o melhor a fazer é tornarmos seus parceiros. Talvez o refrão da música “Deixa a vida me levar, vida leva eu” seja para aqueles que aprenderam que remar contra a vida é experimentar a derrota antes mesmo que o juiz apite o final do jogo. Para mim, sábio é aquele que aprendeu a viver de mãos dadas com a própria vida. O sábio Salomão deixou claro que não há nada melhor para o homem que gozar a vida enquanto puder (Ecl.3:12).
É coerente dizer que, na sua essência a vida de uma pessoa é o reflexo de suas escolhas e ações, o resto são apenas adereços que podem torná-la mais agradável ou não. Entretanto, a própria vida impõe suas regras que influenciam nas nossas escolhas e ações. Há pequenos detalhes que envolvem nossa vida e que nem percebemos e até depreciamos, todavia o que seria de nós sem eles. Igualmente há coisas grandes e pequenas ao nosso redor que são fundamentais para tornar a vida possível de ser vivida, mas que também não damos o devido valor.
Na vida tudo tem sua importância, até mesmo aquilo que julgamos ruim e inútil. Outra declaração do sábio é: “Quando os dias forem bons, aproveite-os bem; mas, quando forem ruins, considere que Deus fez tanto um quanto o outro,...” (Ecl.7:14). Já me peguei usufruindo coisas que a vida me ofertou que não dava nenhum valor, e para ser bem franco até faria qualquer sacrifício para me livrar delas. Fato recente aconteceu quando estava cofiando minha barba a comecei a relaxar e descansar ao mesmo tempo. Detesto ficar com barba e muito menos tirar barba. Tenho razões fortes para tal aversão. Os cabelos da minha barba são bem grossos e à medida que crescem alguns vão penetrando na minha pele e me furando, isso faz com que eu coce a barba continuamente e acabo me ferindo. Por outro lado, todas às vezes que a lâmina do aparelho de barbear desliza sobre minha pele, ela irrita que chega até a ferir. Fico tão incomodado com isso que às vezes chego a murmurar. Fiquei pensativo ao admitir que a mesma barba que me irritou também pôde me dá prazer. Isso soa como vindo de alguém que é simplório, no entanto são as coisas simples do cotidiano que mais revelam a força da vida. Assim é a vida, tudo tem sua utilidade; e é por isso que podemos tirar proveito até das coisas que nos desagradam.
O veneno da cobra pode matar um homem, mas também pode servir de antídoto para livrá-lo de uma doença mortal. A morte de uma corsa pode ser uma injustiça aos nossos olhos, mas é questão de sobrevivência para o leão. Até a folha de uma árvore quando cai na floresta tem sua utilidade.
Lutamos por acrescentar tantas coisas à nossa vida que acabamos deixando de usufruir a vida como ela é: Só vida. Não se trata de deixar de fazer o que tem de ser feito, ou até mesmo matar o desejo de realizações. Não! É entender que o sentido da vida não está no que fazemos, mas no quanto vivemos à medida que estamos fazendo. É preciso deixar de nos preocupar tanto em arrumar nossa vida e decidirmos viver a vida como ela é para entendermos o que Millôr Fernandes quer dizer com “Viver é desenhar sem borracha”.
Desde o dia em que resolvi abraçar as palavras da Vida, fiz as pazes com a vida e aprendi a viver um dia de cada vez. Se assim é a vida, então assim vou vivendo.