Mais um ano
em que o desfile na passarela do samba foi mostrado em detalhes pela televisão
brasileira. Na verdade, já a um bom tempo os acontecimentos do mundo todo se
transformaram em meros “desfiles” que não cessam de passar à vista da plateia.
A televisão
não deixa escapar um. Tem desfiles de todos os gostos. Cada desfile que passa
vai produzindo alegria, euforia, tristeza, raiva, choro, admiração, rivalidade,
desespero e até indiferença.
Os “desfiles”
do cotidiano são diferentes dos da passarela, já que nestes as pessoas se
expõem para serem aplaudidas, enquanto naqueles as pessoas são expostas para
produzirem audiência. Atualmente, entre os “desfiles” em destaques, que prendem
milhares e milhares de pessoas na televisão, estão: Os refugiados da Síria
desesperados para encontrar o chão do sossego; o Donald Trump exibindo sua
intolerância e discriminação para com os imigrantes; a vergonhosa podridão da
política brasileira e a fome matando milhões de crianças no mundo todo. Daqui a
um tempo esses “desfiles” serão empurrados por novas comissões de frente, e
outras novidades vão entrar na passarela da informação.
E é neste
samba da vida que a plateia vai se tornando cada vez mais insensível às dores e
sofrimentos da multidão. As tragédias são tantas, que de tanto chorar as
próprias dores, não dá nem tempo de chorar com os que choram. Como diz Chico
Buarque: “E cada qual no seu canto. Em
cada canto uma dor. Depois da banda passar. Cantando coisas de amor”.
Os olhos estão obscurecidos diante da realidade
de que, depois que o “desfile” passa, fica apenas uma passarela encardida pela
sujeira da indiferença. No final de tudo, vale o que disse o sábio Salomão:
Nada faz sentido! Nada faz sentido! Porque só o temor a Deus é que dá sentido a
tudo.