segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Minha amizade com um ateu

Dos vários colegas de infância havia um que eu me identificava mais. Sempre estávamos juntos. À medida que fomos crescendo fomos também descobrindo nossas diferenças pessoais. Nos estudos, ele gostava de botânica, eu de matemática; no esporte, ele gostava de basquete, eu de futebol. Quando chegou o tempo de faculdade, ele seguiu a Agronomia, eu segui a Engenharia. Já bem cedo me tornei um cristão, quanto a ele, se tornou um ateu ferrenho. Mesmo assim, éramos bem ligados um ao outro.

Mas, pelas circunstâncias da vida, ele foi morar em outra cidade. Nesse tempo ainda não tinha facebook nem whatsApp, aí perdemos contato um com o outro. Passaram-se muito tempo, mas vez por outra a lembrança daquele colega vinha à minha mente. Com o advento da internet, resolvi procurá-lo. Não foi difícil encontrá-lo. Bastou cutucar o facebook que ficou fácil a gente voltar a se falar. Como diz um poema que li: Nunca é longe demais o caminho que nos conduz à casa de um amigo.

Depois de algumas conversas pelo whatsApp percebi que entre nós ainda havia muita admiração um pelo outro. Ele continuava ateu, por isso falamos de muitas coisas menos de religião. Havia razão de evitarmos esse tipo de conversa. Antes de nos distanciarmos, ele sempre afirmava duas coisas. A primeira é que ele só acreditava em Deus se pudesse ver Deus. A segunda é que ele detestava conversar com crente, pois a ladainha era sempre a mesma: Céu e inferno, salvação e condenação, pecado e arrependimento, etc.

No início eu ficava chateado quando ele falava estas coisas, mas hoje o entendo muito bem. Aprendi na caminhada com Cristo que tudo na vida tem que ter equilíbrio, e que a verdadeira fé é refletida no viver comum e não no muito falar de Deus.

Um belo dia, ele me surpreendeu! Mandou-me um whatsApp pedindo que eu falasse alguma coisa sobre a existência de Deus. Aí eu vivi um dos maiores desafios em minha vida: Falar para um ateu da existência de Deus sem os termos da religião. Uau! Gostei!

Neste tempo, estava lendo vários poemas de grandes escritores. Então resolvi compartilhar com meu colega sobre o que Rubem Alves disse, quando perguntaram pra ele se ele acreditava em Deus. “Deus nunca foi visto por ninguém. Por acaso a gente vê os próprios olhos? Quem vê os próprios olhos é cego. Para ver com os próprios olhos, é preciso não ver os olhos... Deus é como os olhos. Não podemos vê-lo para ver através Dele. Deus é um jeito de ver”.

Depois disso, ele retornou dizendo que gostaria que falássemos mais sobre Deus. A partir daí comecei a falar do modo como eu via e sentia Deus. Pois é, a verdade é que a gente quer explicar demais a existência de Deus, e acabamos esquecendo que ninguém explica Deus.

Até agora não sei se ele deixou de ser ateu, mas uma coisa eu sei, não quero explicar Deus. Quero tão somente olhar através de Deus.

domingo, 2 de outubro de 2016

Pênalti e Votação

Gosto muito de assistir uma partida de futebol. Sou do tipo que vibro muito quando o time que torço marca gol. Mas tem algo que me inquieta muito no futebol... Uma decisão de jogo pelos pênaltis. O jogo de futebol é um confronto entre equipes; já o pênalti é um enfrentamento individual de um contra um, onde as equipes apenas esperam o resultado.

O interessante é que o resultado de um pênalti nem sempre determina qual foi a melhor equipe em campo. Às vezes o melhor jogador é o que perde o pênalti, e o melhor goleiro é o que não defende nenhum. Uma decisão pelos pênaltis pode deixar um gosto amargo de injustiça nos jogadores da melhor equipe, ou um sentimento de superação nos da pior.

Acho que uma decisão eleitoral é parecida com uma decisão de uma partida de futebol pelos pênaltis. Os Partidos políticos se enfrentam durante todo o período de propaganda eleitoral, mas no final das contas a vitória vem de uma decisão individual.  Ou seja, é o candidato tentando pegar o voto do eleitor, e o eleitor tentando não jogar seu voto fora. Na política nem sempre o Partido com melhores propostas vence, assim como, nem sempre o melhor candidato é eleito. Já vi eleitores frustrados por verem seu Partido sendo derrotado por um péssimo candidato. Pois é! Se no futebol há decisões injustas, imagina na Eleição. E como tem!

Penso que, tanto no pênalti como na votação, a questão maior não está no resultado, mas na consciência de quem bate e de quem vota. Nenhuma batida de pênalti ou decisão de voto deve ser feito de forma irresponsável. Se votarmos com consciência, a frustração pelos resultados é passageira, e só assim olharemos para frente esperando uma nova oportunidade.


Um voto livre é um voto consciente!