quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cadeira de balanço.


 
 
Fazia tempo que eu não ia ao sítio de meu pai. Desde quando minha mãe se foi passei a evitar ir ali. Tudo naquele lugar e naquela casa lembrava aquela baixinha carismática. Por uma necessidade de negócios foi necessário passar por lá. Parei o carro e fiquei alguns minutos sem sair. Pensativo e com o coração apertado abrir o portão de alumínio, e a primeira visão foi daquele lugar tradicional que meus pais ficavam ao cair da tarde. A imagem estava tão clara em minha mente que parecia que os meus olhos acompanhavam o vai e vem das cadeiras de balanço. Hoje, também tenho uma cadeira de balanço. Vez por outra me sento nela, e no ritmo do balanço sou transportado aos tempos de antigamente.
A casa era toda avarandada, com o nível do piso bem acima da área livre. Devido a isto, havia uma escada bem larga de quatro degraus que iam se sobrepondo na forma de um trapézio. Em frente à casa a mangueira predileta de minha mãe permanecia intacta. Na lateral direita os dois pés de cajus cruzavam seus ramos, produzindo assim um sombreado agradável de si ficar. Próximo ao muro frontal estava as três pitangueiras que meu pai cuidava de forma especial.
Por permanecer fechada há bastante tempo, dava a impressão que a casa estava abandonada. Sozinho, o ambiente produziu em mim uma mistura inquietante de saudade-silêncio-solidão. Sentia-me engolido por um vazio doloroso da presença. Entrei na casa pela porta dos fundos e fui a todos os aposentos. A sensação era de voltar pra casa depois de muito tempo fora. Senti uma pitada de saudade do aconchego da casa de meus pais. Na suíte principal o guarda-roupa vazio e a cama sem colchão guardavam segredos de um casamento duradouro; no corredor, sobre a pequena escrivaninha o telefone jazia mudo; na sala de jantar estava a mesa que só servia de recepção para os visitantes, pois raramente era usada; e na grande sala já não havia o conjunto de sofá, somente a velha Arca onde minha mãe guardava os intocáveis pratos de porcelanas. Ainda permanecia na cozinha a mesa de oito lugares, toda de pau-d’arco. Ao mesmo tempo em que olhava a mesa, muitas lembranças passavam pela minha mente. Aquela mesa era como um lugar sagrado para meus pais, porque era ali que os filhos costumavam se reunir para comer e compartilhar a vida com eles. De repente acariciei a mesa e falei como se ela pudesse me ouvir: Tu és uma grande testemunha dos momentos maravilhosos que passei aqui com meus pais.
Depois de fechar a porta da cozinha, dei uma volta completa ao redor da casa. Perto do portão de saída ainda parei e dei o último olhar no lugar onde meus pais ficavam sentados nas cadeiras de balanço. Em lágrimas fechei o portão e deixei aquela casa pra trás. No meio do caminho percebi que só a casa é que ficou para trás, mas o lar dos meus pais continuava comigo. Porque casa de pai filho nunca esquece.