segunda-feira, 18 de junho de 2012

Deslumbramento

Fiquei deslumbrado! Expressão ultrapassada nesta geração. Sugada pela força do desencanto, gerado pela multiplicidade das descobertas, tornou-se sinal de tolice e marca registrada daquele que é considerado bobo. Facilidade de entusiasmar-se, sentir-se fascinado e maravilhado, são coisas de outros tempos. Já não nos encantamos mais como antigamente!
Muito tempo já se passou quando a magia de uma nova descoberta transformava as crianças em bebês e os adultos em crianças. Quando as novidades entusiasmavam os velhos e estes voltavam a sonhar. Hoje, nada é mais novidade, tudo é apenas uma questão de usar a inteligência. O que foi descoberto hoje, no dia seguinte já foi ultrapassado por algo melhor. Não dá nem tempo de se comemorar e muito menos de si encantar.
O deslumbramento nem sempre é fruto da grandeza da descoberta ou do objeto admirado, mas principalmente do olhar de quem descobre e admira. Só fica encantado quem olha com o coração. Fascinação acontece quando os olhos emprestam a visão para a alma. Quando isto ocorre, é possível ficarmos deslumbrados com algo que já estava há muito tempo diante de nós. Daí a expressão: Há tanto tempo ao meu lado e eu não o percebia. Só quem já experimentou os efeitos de um verdadeiro deslumbramento entende quando uma criança fica excitada ao ver seu super herói; compreende porque nem a raça e nem a cor faz diferença nas relações pessoais; sabe por que a aparência física não sobrepuja sobre o amor; e acima de tudo aprende a admirar as coisas e as pessoas pelo valor que elas têm e não pelo valor que os outros dão a elas.
Dizem que quem estar deslumbrado vê o que o outro não consegue enxergar, porque vê além do óbvio. Talvez isto se explique pela própria etimologia da palavra, que é a soma do intensificativo DES mais LUMBRE, que por sua vez vem do latim LUMEN, correspondente à palavra LUZ. Sendo assim, estar deslumbrado é estar sob efeito da luz e da transparência.  
Penso que quem primeiro ficou deslumbrado foi Deus, pois quando terminou de criar todas as coisas, viu que tudo havia ficado muito bom. Houve também homens no passado que ficaram encantados com a grandeza da criação de Deus. Dentre eles está Davi, ao reconhecer que de uma maneira sobrenatural e maravilhosa foi formado. Outro, de tão deslumbrado com a pessoa de Jesus, declarou: “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!”.
Infelizmente hoje tem acontecido o contrário. Perdeu-se a capacidade de deslumbrar-se devido o desejo narcísico de se tornar alvo de admiração. Muitos estão aprisionados pela busca obsessiva de reconhecimento por parte dos outros, por isto não conseguem se fascinar com as coisas simples e significativas da vida. Entendo que para resgatar a sensibilidade dos corações é necessário que primeiro seja permitido trocar o coração de pedra pelo coração de carne; e isto só acontece quando a alma e o espírito choram por Deus.