sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma incômoda experiência

Já fazia bastante tempo! Já nem sabia o que era sentir isso. Achei amargo o gostinho do desprezo. Fiquei apertado por dentro. Depois que minha mãe se foi, pela primeira vez senti muito forte a carência do abraço materno. A sensação de ausência de quem se gosta, mesmo este alguém estando presente, é terrível. Depreciei aos olhos de quem dizia me admirar. Esta incômoda experiência atiçou minha vulnerabilidade e me fez refletir sobre a transitoriedade dos sentimentos. Tudo passa! Até os sentimentos mais sublimes sucumbem ao tempo. Creio que Deus criou o tempo para servir de cura para a alma, também. Só o tempo pode aliviar a saudade de um ente que partiu; a dor da separação de um casal; a agonia da quebra de um relacionamento amigável; o mal-estar gerado pelo espaço vazio que um dia foi ocupado por um amigo mais chegado que irmão.
Não ouso, nem de longe, comparar minha experiência com o abandono e desprezo que Cristo sentiu, ao ser levado para cruz. Seria uma incoerência desmedida. Seria equipara-se com Alguém que viveu o que viveu para que eu tivesse vida. Não! No entanto, um farelo ínfimo do desprezo me atingiu. Engoli o choro. Travei a respiração. E a parti daí me vi ao lado de Maria aos pés da cruz de Cristo.
A cena da crucificação me fez olhar para mim mesmo, para meu egoísmo e presunção de achar que não era justo ser desprezado ou ignorado. Quem eu acho que sou para pensar que posso agradar a todos? No fundo, o que sentia mesmo é que deveria ser amado e admirado por todos. Que loucura! Que imaturidade! Que ilusão! Que pretensão! Fui fisgado pelo pecado da arrogância de querer ser o que nem Ele foi entre os homens. Miserável homem que sou!
Calei-me. Silenciei-me. A ponto de só ouvir as batidas do Seu coração. Minha mente vagueou; meus olhos fixaram-se no infinito; minha alma aquietou-se; meu espírito descansou como um filho que descansa nos braços do Pai, para ser inundado por seu amor Eterno. O olhar Dele me fez sereno, me sarou, me libertou, fez-me entender que devemos amar mesmo quando não se é amado, e que o ser desprezado é componente de um processo de ser cada dia semelhante a Ele.
Levantei-me, olhei para Maria e vi no rosto dela a aparência do Filho. Então segui de volta no meu caminho, fortalecido pela forca do Seu olhar. Já bem longe ouvi a voz Daquele que me dizia: “Não temas, pois eu sou contigo; não te assombres, pois eu sou o teu Deus. Eu te fortalecerei, e te ajudarei; eu te sustentarei com a destra da minha justiça”